16 de julho de 2013

Capítulo 18 - Sem chão


 Capítulo 18 – Sem chão.
Rodrigo e Mel saíram deixando Dora sozinha na cafeteria. A garota pensou em ir atrás deles, mas desistiu, pois o clima tenso que Rodrigo pareceu ter com seus conhecidos não seria bom para uma conversa a três. O rapaz parecia triste e Dora achou que Mel seria a melhor companhia naquela hora.
Resolveu tomar um café antes de ir pra casa e antes que terminasse seu celular tocou.
-Alo? – disse atendendo ao telefone.
-Dora onde você esta? – interrogou sua irmã que tinha a voz preocupada do outro lado da linha.
-Estou em uma cafeteria. Eu avisei a mamãe ontem que ficaria com a Mel, pois ela não estava bem. – explicou-se
-Tudo bem. Eu estou no hospital... – Lia disse um pouco tensa.
-O que? – interrompeu Dora preocupada – Por que está ai? O que aconteceu? –começou a encher a irmã de perguntas.
Pagou a conta e logo saiu.
-É a mamãe. Ela não está bem tive que trazê-la . – esclareceu Lia – Vem pra cá.
-Já estou indo. –disse apressada.
Antes de desligar, Lia passou o nome do hospital para sua irmã mais nova que correu apressada para lá.
Dora chegou assustada e ofegante até o local onde se encontrava sua mãe e irmã.
-Lia, cadê a mamãe? –perguntou sem folego.
Lia percebeu o estado preocupado da irmã e tentou tranquiliza-la, coisa difícil de fazer, pois das duas Dora é a mais afobada.
Lia tinha chegado em casa de madrugada como de costume e encontrara a mãe desmaiada na sala.
-Calma Dora! O doutor estava examinando ela e disse que assim que você chegasse gostaria de falar com nós duas.
Já no consultório do Drº Osvaldo as meninas ouviam atentamente ao que o médico dizia.
 O doutor parecia preocupado o que assustava mais as meninas, entretanto não conseguiria esconder das irmãs o que a mãe delas tinha.
-Então doutor o que minha mãe tem? – Dora principiou.
-Eu a examinei e tudo indica é que sua mãe sofreu um AVC ... – a voz do doutor era calma e tranquilizante, porém as noticias não eram boas.
-Acidente vascular cerebral?! – Lia temerosa atrapalhou o médico. –Mas, isso não só dá em idosos.
Enquanto isso Dora estava estática digerindo tudo. Entendia muito de tudo um pouco e sabia bem sobre esse caso.
-Infelizmente não. – negou o médico. – Há diversos tipos de doenças que se a pessoa tem em seu histórico pode causar o AVC.
-A mamãe tem diabetes. – anunciou Dora.
-E o que tem a ver? –Lia estava perplexa.
Dora mordeu os lábios negando com a cabeça.
-Muitas pessoas são propensas a sofrer um AVC. –explanou o médico para Lia – Sua irmã sabe muito bem disso. – apontou pra Dora.
O doutor Osvaldo parecia ver que Dora entendia mais do que parecia sobre a doença.
-Eu devia ter percebido os sinais. – Dora disse desolada.
-Será que vocês podem falar minha língua que eu não estou entendendo? –questionou Lia confusa.
-Lia o AVC que é vulgarmente chamado de derrame cerebral, é caracterizado pela perda rápida de função neurológica, decorrente do entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos cerebrais. Dentre os principais fatores de risco para AVC estão a idade avançada, hipertensão arterial que é o mesmo que pressão alta, tabagismo, diabetes, colesterol elevado, acidente isquêmico transitório prévio , estenose da válvula atrioventricular e fibrilação atrial. – o doutor explicou um pouco sobre a doença.
-E que sinais é esse Dora? – apavorada cutucou a irmã.
-O AVC tem diversos sintomas e entre eles está a dificuldade de mover o rosto, dificuldade em movimentar os braços adequadamente, dificuldade de falar e se expressar, fraqueza nas pernas e problemas de visão. – respondeu Dora em um só folego – Não acredito que não percebi nada disso.
Lia ainda estava confusa.
-Esses sinais se não dermos a devida atenção passam despercebidos. – o médico procurou reconforta-las.
-Mas doutor tem algum tratamento? O que podemos fazer pela nossa mãe? – perguntou Lia.
Osvaldo fitou as duas. E as garotas temiam pelo o que estavam por vir.
-Infelizmente... – suspirou o médico – não há nada que se possa fazer.
-Como assim? – Dora irritou-se – Eu sei que há tratamento.
-Há casos que sim. Porém o caso de sua mãe é bem delicado. – encarou as reparando na tristeza das meninas – Eu não queria dizer isso, mas somente um milagre para mãe de vocês se salvar.
Dora e Lia se entreolharam com pesar.

-Quer um café? – Lia perguntou para a irmã.
Dora balançou a cabeça. Ainda não conseguia acreditar em tudo o que estava acontecendo.
-Beba alguma coisa. Vai te fazer bem. –insistiu Lia.
-Já disse que não. – a voz de Dora saiu fraca.
As duas estavam na cafeteria do hospital por sugestão de Lia, por ser mais velha queria tomar as rédeas da situação.
-Dora a gente precisa ligar para nossos pais. – comentou Lia fazendo Dora a olha-la triste.
O pai de Lia namorou com dona Isabel e ela engravidou antes do casamento, porém os dois nunca se casaram e infelizmente terminaram o relacionamento. Anos depois Isabel conheceu Augusto e se casou com ele e logo tiveram Dora, mas como os dois viviam brigando eles se separaram.
-Não tenho o porquê ligar para o Augusto. – falou rude ajeitando seus óculos.
Lia tensa passou a mão na testa.
-A gente tem que estar preparada para o pior. – elucidou sua irmã.
-Não fale como se a mamãe fosse morrer. – disse abaixando a cabeça.
-Você ouviu o médico. – Lia parecia madura. –Tudo bem, se não quiser ligar não liga, mas eu vou ligar.
Dora cruzou os braços sobre a mesa e inclinou a cabeça sobre as mãos.
-Tenho que te dizer mais uma coisa. – predisse Lia.
Dora levantou a cabeça fitando-a.
-Eu vou morar com meu pai. A mamãe já sabia disso. Vou fazer a prova da OAB e fazer minha pós-graduação em Direito. – preveniu-a.
-Hum... – resmungou Dora sem dar atenção a irmã.
-É por isso que quero que fale com seu pai. Se acontecer alguma coisa com nossa mãe você vai morar com ele. – Dora arregalou os olhos - A gente tem que ter um plano de escape.
-Isso é ridículo Lia. – Argumentou Dora. –Sabe que meu pai nem quer saber de mim. – entristeceu.
Para a tristeza de Dora seu pai nunca fora presente. Ele tinha outra família e mais dois filhos que a garota nunca pode conhecer a única coisa que ele fazia pela garota era pagar a pensão, diferente de Roberto pai de Lia que era solteiro, pagava a pensão e se preocupava com a filha.
-A situação é diferente Dora. Eu sei que Augusto não tem sido um bom pai, porém quando souber que você precisa dele ele não vai negar ajuda-la. – Lia tentou anima-la e Dora deu um sorriso irônico.
Os pais delas moravam em cidades diferentes e pra Dora de alguma forma no momento sair de Quatro Rios estava fora de cogitação.
-Quer saber? Eu não quero falar mais sobre isso. – irritou-se Dora.
-Tudo bem.
Lia encerrou o assunto.
-Olha a hora?! – Lia encarou a tela de seu celular – É melhor você buscar a menina. Precisa trabalhar.
-E a mamãe? – perguntou intrigada.
-Eu fico com ela. Ela está desacordada e não adianta nós duas ficarmos aqui e também a Carol não pode ficar esperando.
Mesmo relutante Dora foi buscar Carol.
Não conseguia se concentrar em nada, estava preocupadíssima com sua mãe e toda a situação que envolvia se o pior acontecesse.
-Que cheiro é esse?  – disse Carol entrando na cozinha.
-Ai meu Deus! – exclamou Dora. – Queimei a comida.
Dora não sabia cozinhar então a mãe de Carol deixava tudo pronto só para esquentar.
-Eba!!! – gritou a garotinha e Dora a encarou – Vamos comer com o Caio. – encerrou feliz.
Dora sentou-se na cadeira e colocou as mãos no rosto e começou a chorar. Carol ficou sem reação tentando entender o que acontecendo com a babá para chorar descontrolada.
-Desculpa. – pediu a babá enquanto chorava e soluçava.
-Tudo bem. Eu posso comer pão. – a garotinha tentou aliviar a situação.
-Não é por isso. Eu vou lavar o rosto no banheiro. – disse saindo.
Aproveitando que a babá retirou-se, Carol pegou o celular e escreveu uma mensagem encaminhando-a Caio.
“Minha babá está chorando”.
Dora voltou logo com o rosto sem lágrimas, mas ainda vermelho e começou a preparar um misto-quente para a menininha.
-Não vai comer? – perguntou a garotinha dando a primeira mordida em seu lanche.
-Não estou com fome. – a desolação da babá dava para ver de longe.
As horas passaram devagar e isso deixava Dora mais inquieta. Logo que os pais da Carol chegaram Dora estava decidida a passar no hospital primeiro antes de ir em casa tomar um banho.
Na verdade ela gostaria de conversa com alguém, de poder desabafar com um amigo e dizer tudo o que estava sentindo.
Lembrou-se do dia do jantar e de que Caio dissera sobre ensinar a viver a vida. Achou que seria uma boa ideia procura-lo, mas faria isso outro dia. Ela sabia que apesar das divergências com o rapaz ele tem se mostrado ser um grande amigo e com certeza ele a escutaria.
Assim que saiu do prédio viu Caio, porém ele não estava sozinho, havia uma moça loira muito bonita a qual acariciava o rosto de Caio, entretanto este não reagia as caricias da mulher.
Dora não sabia explicar, porém aquilo a deixou desnorteada. A mulher estava se aproximando mais do rosto de Caio e mesmo não entendendo sabia que ela iria beija-lo.
De repente o celular de Dora toca fazendo Caio se desviar da mulher e olhar para aquela garota ingênua.
-Dora?! – exclamou o belo rapaz de olhos cor-de-esmeralda.
-Alo? – a garota atendeu o telefone sem graça. –Eu não estou ouvindo.
A ligação estava baixa e ela não conseguia entender.
-Lia?! – a voz da irmã ficou nítida. – Lia o que foi? Bateu o desespero nela.
-A mamãe morreu. –finalmente a voz de Lia saiu audível.
Dora não acreditou no que ouviu. Chocada deixou o celular cair ao mesmo tempo em que caiu de joelhos sem reação.



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