14 de maio de 2013

Capítulo 9 - Escolhas

Uma história em quatro mãos
        
             Rodrigo tocou o último acorde daquela música tocando profundamente a todos que estavam na lanchonete. Ele permaneceu sentado sem tocar mais nenhum acorde e também sem falar nada, apenas ouviu-se um suspiro, então levantou-se e saiu de seu lugar.
            Apesar de trabalhar em lugares cheios, não gostava de muita aglomeração, por isso passou o seu descanso de quinze minutos no outro canto da lanchonete, onde só havia um balão e algumas banquetas. Geralmente passavam por ai, clientes apressados que tomavam apenas uma bebida e iam embora. E naquela noite não foi diferente, assim que sentou dois homens estavam saindo.
            Rodrigo só queria ficar sozinho naquele momento, mas antes que pudesse perder-se em seus pensamentos, escutou uma voz agradável ao seu lado.
            _ Parabéns! Você canta e toca muito bem. Queria eu ter pelo menos um pouco disso em minha vida.
            Ele encarou a moça de óculos intrigado _ Por que você diz isso?
Ela deu de ombros _ Sei lá. Acho que estou em um momento de crise profissional. Durante tempo meu único emprego foi e continua sendo como babá. Daí vejo você fazendo algo tão belo e profundo e fico irritada.
            Rodrigo arregalou os olhos _ Eu te irrito?
            Só então a moça, assustada fitou-o _ Há, não quis dizer isso. É que para todo mundo parece tão fácil conseguir as coisas e para tudo é sempre uma dificuldade.
            Os dois se encararam por alguns segundos. Rodrigo percebeu a angústia sincera daquela moça desconhecida, então sem que percebe-se revelou algo que nunca disse à ninguém.
            _ Sabe porque virei músico? – Antes que ela pudesse responder, ele continuou
_ Por que um dia me entreguei totalmente à uma mulher e ela acabou comigo e com a minha família.
Respirou fundo antes de continuar, doía falar daquilo, mas sentia que era preciso
_ Desde então minha única família sou eu e o meu violão. A música me ajuda a ficar de pé.
A jovem percebeu a dor profunda estampada no fundo dos seus olhos. Não sabia o que tinha acontecido, mas tinha a sensação de que era algo realmente sério.
Rodrigo levantou-se, estava na hora de voltar, no entanto, ainda abalado com o que tivera coragem de falar, estendeu a mão para a jovem _ Como você se chama?
_ Dora – Respondeu intrigada com o seu jeito.
_ Dora, pense muito bem em suas escolhas.
Dizendo isso saiu em disparada, pegou o violão e começou a tocar uma música nunca ouvista antes. Seu toque não era suave como sempre, a batida era forte assim como a melodia. Seu novo jeito de tocar chamou a atenção de todos e também dos que passavam pela rua. Sem que percebe-se Rodrigo havia acabado de compor mais uma música. Era incrível a sua capacidade e a sensibilidade para a música.
            Quando terminou sorriu pela primeira vez para o seu público. Parecia querer olhar para cada pessoa que estava ali _ Reflita em suas escolhas! – Enfatizou fitando graciosamente a todos. Sem que percebe-se fitou uma bela jovem que só lembrou quem era, segundos depois. Deu uma leve risada e comentou _ E cuidado para não derramarem o café no seu vizinho.
Todos riram mesmo sem entender. Talvez pelo fato de nunca virem Rodrigo daquele jeito. Estava animado e isso contribuiu para que aquela noite fosse a melhor de todas.


            Rodrigo estacionou a moto na garagem do prédio e andou tranquilamente até o elevador. Tirou o violão e começou a dedilhar enquanto esperava a porta fechar. Há meses não sentia-se tão bem e leve. Era incrível o que aquela conversa com Dora, despertou. Conseguiu falar algo que nunca teve coragem de dizer e isso que só resumiu a sua história.
            Percebeu que a porta do elevador abriu. Tiros os olhos do violão para ver quem tinha entrado. Não conteve o seu sorriso, parecia brincadeira do destino. A moça ficou um pouco sem graça, mas retribuiu o sorriso.
_ Não se preocupe, não tenho café comigo.
_ Fico aliviado por isso – Respondeu guardando seu violão.
_ Não sabia que você cantava e tocava.
_ E o que achou?
Mel ficou pensando na resposta certa que daria. Suas músicas eram mais profundas do que ele imaginava. Nesse momento seu celular tocou, ela olhou para o visor e ficou irritada, jogou o celular no chão e gritou _ Como eu te odeio!
Olhou por um momento para Rodrigo completamente desnorteada e fez algo que jamais faria. Chorou em seus ombros. Ela não foi até ele, mas Rodrigo vendo-a desamparada daquele jeito a abraçou carinhosamente. Pensou que todas as mulher eram iguais, mas ao ver sua vizinha naquele estado concluiu que ela era uma pessoa forte, sincera e sensível. Não teria coragem de trair, não teria coragem de destruir sua família, simplesmente sentia que ela não era desse tipo. Era uma mulher digna de ser amada.


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